VerdadeiraMente

José Carlos Campos Velho

A animação DivertidaMente pode ser acessada no streaming pelo Disney Channel. Dividida em dois episódios, trata da infância e do início da adolescência de Riley, uma menina nascida em Minesotta, um estado do centro-oeste norte-americano. No decorrer do primeiro filme, Riley muda-se com os pais para San Francisco, na Califórnia, tendo que abandonar grande parte das coisas que davam significado à sua vida: a casa onde viveu sua infância, a escola, os amigos e o esporte que sempre amou: o hóquei no gelo. Minesotta é um dos estados mais frios dos EUA, localizado na fronteira com o Canadá. O filme passa-se dentro da mente de Riley, na qual algumas emoções como a Alegria, a Tristeza, a Raiva e o Medo constroem suas memórias ao longo da infância, passada junto aos pais, ambos extremamente amorosos e orgulhosos da sua guriazinha. Mas dentro da cabeça de Riley as coisas não são tão pacíficas – as emoções tem uma espécie de mesa de controle, pelas quais tentam determinar o comportamento da menina, em geral de maneira conflituosa – sendo a alegria uma espécie de comandante (“Riley precisa ser feliz!”), que volta e meia perde o protagonismo para a tristeza, a raiva e o medo. As coisas se complicam quando entra em cena a puberdade, e novas emoções – a Ansiedade, a Vergonha, a Inveja e o Tédio entram no turbilhão que se transforma a mente de Riley e tomam posse da mesa de controle.


Misto de emoções

A ansiedade assume um papel determinante e a menina passa a ter um comportamento errático e imprevisível, buscando aprovação o tempo todo. Com isso, ilhas de boas memórias construídas ao longo de sua vida vão desabando, às vezes, não deixando nada no lugar – somente espaços vazios e memórias que vão caindo no vale do esquecimento. O fluxo de pensamentos é metaforicamente representado por um rio e algumas memórias são protegidas, pois seriam formadoras da personalidade de Riley – memórias estas que a puberdade põe em cheque. A Nostalgia, que aparece em dois momentos, e logo é retirada de cena, pois ainda não é seu momento, é representada por uma velha senhora, com a aparência de uma avó dos contos infantis, sempre lembrando de “como foram bons aqueles tempos”. Nos créditos, vemos que todos os personagens dos filmes são regidos por emoções semelhantes – e fica escrito nas entrelinhas o pouco controle que temos sobre nossos pensamentos e portanto, sobre nossas decisões e nossas vidas. Tentamos fazer o melhor, mas não às custas de intensos desgastes psíquicos, por vezes.


Projeto local ganha força

Uma notícia veiculada recentemente pelo Diário de Santa Maria falou de uma iniciativa da UFSM, o Projeto VerdadeiraMente, coordenado pela professora de Comunicação Luciana Carvalho, e formado por jornalistas e estudantes de comunicação, atuando em conjunto com a Ebserh, administradora do HUSM, em seu setor de comunicação. A ideia central do projeto é fazer frente à desinformação na área da Saúde, particularmente no que tange à saúde mental. A informação hoje é disseminada na sociedade à partir de múltiplas fontes, sendo as Redes Sociais uma das principais irradiadoras de notícias. Infelizmente, com frequência, a informação de má qualidade atinge milhões de pessoas de maneira extremamente rápida – o fenômeno da “viralização” – e as fontes, muitas vezes, são pouco confiáveis e usualmente não são submetidas à checagem. O Projeto VerdadeiraMente propõe-se a ser um promontório de divulgação científica ética e idônea, propondo reflexões aprofundadas e sedimentadas em pesquisas cuidadosas e metodologicamente corretas em relação aos temas abordados. O projeto caracteriza-se pela perspectiva de uma Slow Communication e Slow Midia, tendo como horizonte a verdade – por mais flexível que este conceito possa ser. A saúde mental na velhice é um investimento social. E para isso, a qualidade da informação que é fornecida às pessoas é fundamental. Os grupos de WhatsApp e o YouTube estão fortemente impregnados por falsos profetas, por vendilhões do templo, oferecendo soluções mágicas para o sofrimento mental.


As doenças mentais são altamente prevalentes na velhice, como os transtornos cognitivos, a depressão, as consequências psíquicas do isolamento e da solidão e, merecem uma abordagem adequada dos profissionais de saúde e da sociedade. Mas, não só de Nostalgia vivem as pessoas idosas: o Medo, a Tristeza, a Ansiedade e o Tédio estão sempre rondando – e podem determinar comportamentos e decisões por vezes errôneas. É muito bem vindo o projeto VerdadeiraMente.


Quem sabe assim teremos nossa saúde mental melhor nutrida e irrigada, vivendo um pouco mais DivertidaMente.

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